Já imaginaram como ficam os personagens que fazem parte do São João de Campina Grande, suspenso em decorrência da pandemia de Covid-19, no ano de 2020?
O fotógrafo e publicitário Emanuel Tadeu, que há cinco anos fotografa as festas juninas da Rainha da Borborema, decidiu fazer uma exposição virtual para mostrar como ficaram os profissionais como cantor, costureira, sanfoneiro, apresentador e quadrilheiro nessa época, a qual deveria ser o aquecimento para o Maior São João do Mundo. Todas as fotos serão acompanhadas por poemas do poeta cordelista Lima Filho.
As obras serão expostas em preto e branco e o projeto recebe o nome “O Descolorir da Tradição – Sonhos em Quarentena”. Ela visa traduzir em fotos que o São João, naquele momento, foi pausado, pois foi hora de cuidar da saúde.
“Estou acostumado a fotografar o brilho intenso, as cores vivas da festa, mas precisei destinar todas as cores à saúde, que sempre será nossa maior prioridade. Sendo assim, o momento está todo em preto e branco, traduzindo o drama vivido por todos nós.”
As fotos a seguir relatam a descontinuação das cores da vida e mostram também os sonhos, em quarentena, daqueles que são uns dos maiores responsáveis por fazer o Maior São João do Mundo acontecer em Campina Grande (PB).
É necessário passar por isso com a convicção de que iremos voltar. O São João encontra-se ausente, nesse momento, mas ele vai voltar, em perspectiva. ”, explica Emanuel. (2020).
Autor(a) do texto: Anne Karollinne Michaelle Silva
A Obra
O poeta desta obra se chama Lima Filho


Perfurando o fino tecido
Não ouvi em minha porta
Quadrilheiro em alarido
“Apresse os detalhes finais!”
“Vigi! Esse tá lindo demais!”
Era música para meus ouvidos!


Eu venho de lá, da fundação
Sou do tempo que o palco
Já foi lastro de um caminhão
Nossas histórias aqui se fundem
Não se dividem ou confundem
O meu amor pelo São João.


A dor reflete em meu olhar
Sem você meu São João
Não sei como vou ficar
Bom que dói tá apurada
A bebida tão animada
Chora a dor de esperar.


Bate forte o pé no chão
Sou a essência do folclore

Minha chita perdeu a cor
Mas! não perco esse amor
Que trago no coração.


Indica a época da colheita
Sem ouro verde na mesa
A festa não está perfeita
É um milharal de solidão
Sem você meu São João
Meu coração não aceita.


Leva um pouco do artesão
Produto único e incomparável
Riqueza que é feita a mão
O estandarte pro santo
Ficou guardado no canto
A espera do São João.


Sabendo que não vem balão
As cores da festa sumiram
Chapéu no peito e gibão
Uma mesa farta, tá faltando
O meu povo unido degustando
As delicias do meu São João.


Repito sozinho em casa
Na imensidão da varanda
Não vejo fogueira em brasa
O grito de alegria foi furtado
Segue guardado e engasgado
E essa saudade me arrasa.


A busca de um eterno aprendiz
Que aprendeu, criou e ensina
O nosso povo a ser feliz
Marejados de pura saudade
Meu olhar de alegria se invade
Quando toco meu forró raiz.


Não alcançam mais um dó
O baixo ficou tão baixo
Tão solitário e tão só
Que o sanfoneiro implora
“Senhor não vejo a hora
de musicar nosso forró”.

Para brincar meu São João
Agora estamos de luto
Com toda essa confusão

Sem cor sem você ao lado
Sobra apenas emoção.
Lima Filho

Gostaria de ver a obra completa? Clique neste botão para baixar.
Biografia do artista
Emanuel Tadeu da Silva tem 27 anos e é natural de Campina Grande. Graduado em Comunicação Social com Habilitação em Publicidade e Propaganda e atua como fotógrafo há seis anos.
Nos últimos cinco anos fotografou o Maior do São João do Mundo e teve fotos publicadas em veículos nacionais e internacionais.
Emanuel costuma fotografar o cotidiano de Campina com muita sensibilidade, a exemplo do registro das ruas da cidade vazias em período de pandemia.