No filme-carta Jacumã (2014, 8’) realizado pelos estudantes da Escola Municipal Deputado José Mariz, localizada no Conde (PB), somos levados por Aurynha para um dia de pesca com sua família. No começo, acompanhamos um barco navegando em direção ao mar com alguns pescadores e crianças a bordo. Ao chegar no destino, o barulho do motor cessa e a voz de Aurynha surge, apresentando-se enquanto remetente do filme. A sua fala mergulha nos hábitos ligados à maré, na cultura da pesca artesanal enraizada em sua ascendência, nos nomes dos peixes… Na companhia das imagens, criam-se também novas possibilidades de conhecer e partilhar o mundo, de modo que a pesca é afetada pela invenção com o cinema, promovendo alterações no tempo e espaço cotidiano. Ao concluir o passeio, Aurynha nos convida a visitar o Conde e suas praias. Intercepto essa carta para experimentar tais gestos na minha poética com o entorno. Sem roteiro ou antecipação das visualidades, parto como método o dispositivo fílmico, que consiste em jogos e brincadeiras para acionar processos criativos com as imagens.
O dispositivo é simples, como uma sugestão de filmar através de molduras e brechas a fim de tensionar as implicações do enquadramento, o que, na prática, gera combinações imprevistas: a descoberta dos desenhos criados pelos recortes das pedras junto das praias reveladas pelas fissuras que deixam a luz entrar. Já a bicicleta é capaz de criar territórios móveis onde os exercícios podem acontecer, seja como lugar de passagem, seja como interrupção no fluxo para demorar no olhar e sentir. No final, os vários dispositivos criam a base ajustável pela qual eu alço uma abertura ao mundo que acesso, sem reter as questões dentro de uma retórica transparente e limitada.
Nessa constelação, Cartas de Arapuca poderia ser uma mensagem engarrafada lançada ao mar, um postal enviado numa viagem turística ou uma carta de amor presa numa ilha temporal sem fim. O meu destinatário já nasceu aberto à multiplicidade de espectadores do cinema, e se você se sentir à vontade, pode responder às imagens e palavras com uma carta para cartasdearapuca@gmail.com, eu lerei.
1. Filme – carta Jacumã
Apoios Institucionais:
Residência artística na Arapuca Centro de Arte e Cultura, Conde/PB, em 2021
Curadoria da residência – Serge Huot e Valquíria Farias
Participação no Laboratório de Montagem de Filmes Paraibanos, em 2022
Coordenação – Arthur Lins
Tutora – Ana Bárbara Ramos
Monitores – falta
Projeto de conclusão de curso de Cinema e Audiovisual, com orientação da professora Nina Velasco, e apoio do Laboratório de Imagem e Som da UFPE, em 2023
Som – Marcia Rezende
Correção de cor, Fotografia adicional – Bruno Lira
Concepção visual do catálogo – Diá Lus
Assistência no catálogo – Nadí Silva
Maquete – Pedro Pontes
Cartaz – Mononoke
Agradecimentos
Mestra Ana Rodrigues
Mestre Zé Cutia
Nevinha Silva
Ângela Prysthon
A obra
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Biografia
Paulo Pontes (1997) é realizador audiovisual nascido e criado na Parahyba, com raízes familiares no Curimataú paraibano; em 2018, migrou para Recife, onde fez a graduação de Cinema na UFPE. Atua nas áreas de direção e assistência de produção executiva, além de incursões no campo dos cinemas expandidos, em que investiga os entre-lugares acionados pelos fluxos e deslocamentos íntimos e comunitários das cidades que vive e transita.
Nesse contexto, assina a direção e produção da videodança Cidade Coreográfica (2019), estreada no Festival Internacional de Videodança do RS. A direção e roteiro do curta Entre Muros (2020), que compõe o longa-metragem 70 Olhares Sobre Direitos Humanos, produzido pelo Instituto Cultura em Movimento – RJ. Atuou como assistente de direção na obra seriada para TV Drag Ataque, produzida pela Plano 9 Produções. Além de experiências como o Exercício Ka’a, em 2022, como proposta do curador Allan Yzumizaw, resultando no catálogo e exposição coletiva aprovada na convocatória de 2023, no Paço das Artes, em São Paulo. Já em 2023, está desenvolvendo o documentário Canjica, apoiado pelo Funcultura – PE, que vivencia a cultura alimentar rural após o êxodo nordestino na década de 70.