Nebulosa Grafia

Inaugurando a programação do projeto ExpoSesc 2023 na Paraíba, Lucas Alves realiza sua primeira exposição individual intitulada “Nebulosa Grafia”. Nela, o artista apresenta 28 obras, apresentadas em conjuntos de séries, que estão relacionadas à pesquisa a qual desenvolve, desde 2021, a partir de seu interesse acerca das aproximações e distanciamentos existentes nas relações entre os métodos científico e poético. Artista de prática artística conceitual, foi através de suas reflexões acerca da paisagem que compreendeu possíveis formas de pensar o céu ao se apropriar do assunto das nuvens, e suas especificidades científicas, para atualizar e propor seu método poético. Na confluência do uso das linguagens do desenho e da fotografia, Lucas Alves estabelece uma Nebulosa Grafia: uma escrita de nuvens, na qual o registro diário de suas observações do céu se misturam com a diversidade formal das nuvens.

Um sonho que nos percorre desde a infância é o de tocar as nuvens. Torná-las próximas. Nuvens caminham em uma espécie de procissão. Sempre numa mesma direção. Se passamos a vida toda direcionando o nosso olhar para cima, a fim de contemplar o céu, hoje nos inclinamos, porque o céu, em um ato de teimosia, decidiu fazer morada no chão, fez do piso da galeria a sua  cama. Na paisagem que caminhamos ao lado das nuvens, pisar nas nuvens não é prudente, pois corta a nossa carne. 

O sonho infantil torna-se na sua escrita real um ato nebuloso. Lucas talvez nos  possibilite caminhar por entre as nuvens, e nesse caminhar tateamos, talvez, uma das funções  da arte: criar narrativas extraordinárias para o ordinário. Escrever sobre o inominável, o  nebuloso e o distante é uma constante entre escritores e artistas visuais brasileiros, a escrita  não está mais interessada em legendar a fotografia, ela emerge na contemporaneidade para  criar ficções e desmentir a imagem, a fotografia permite a extrapolação e o deslocamento da  literatura de si mesma.

A professora Natalia Brizuela afirma que a fotografia é a arte que permitiu que a  literatura saísse de si mesma. Está na fronteira porosa entre a verdade e a ficção. Lucas Alves  dialoga com a ciência para grafar uma paisagem que, entre sangue e linhas, busca acompanhar  o cotidiano de uma nuvem. O artista escreve fotograficamente. Enquadra imagens no papel. As  imagens caminham.

Li Vasc

BRIZUELA, Natalia. Depois da fotografia: uma literatura fora de si. Rio de Janeiro: Rocco, 2014.

A Obra


Confira a audiodescrição completa da exposição no link abaixo:

https://on.soundcloud.com/5fCGY

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Biografia


Lucas Alves (1995, Recife/PE) é radicado em João Pessoa, onde vive e trabalha desde 2017. Iniciou sua trajetória de produção artística no cenário de arte contemporânea da Paraíba e utiliza variadas linguagens e meios, como desenho, cerâmica, fotografia, objeto e palavra. Seus trabalhos refletem seu interesse pela investigação dos fenômenos originados no próprio processo de criação, além das relações entre arte e natureza.

Participou de exposições coletivas em instituições na Paraíba, como as Galerias do Sesc-PB Cabo Branco, Guarabira e Campina Grande, Galeria Lavandeira, Casarão 34, Usina Cultural Energisa e Centro Cultural São Francisco; em Pernambuco no Museu Murillo La Greca, Galeria Janete Costa e Arte Plural Galeria. Artista participante da segunda edição do projeto Movimento (2021), com curadoria de Valquíria Farias; e do Exercício Ka’a (2022), exposição para seres não-humanos, com curadoria de Allan Yzumizawa, ambos na Arapuca Arte Residência (Conde-PB).