Sesc abre exposição de Laís Domingues em João Pessoa

A artista visual e têxtil Laís Domingues lança a exposição Para si: um processo de ser, dentro do projeto Arte Sesc, na galeria do Sesc Cabo Branco, em João Pessoa, no dia 7 de julho, às 19h. Haverá, ainda, um bate-papo com a artista durante o vernissage, para falar sobre seu processo criativo. A exposição fica em cartaz até o final de julho.

O projeto Bordando o feminino foi idealizado em 2016 pela artista visual Laís Domingues, que havia começado a bordar há pouco tempo. Por meio de pesquisas conheceu a AMAP (Associação de Mulheres Artesãs de Passira), onde encontrou Dona Lúcia Firmino e Marcília Firmino, de braços abertos a receber a ideia. O projeto foi um intercâmbio cultural de cinco meses entre Laís Domingues, Thanina Godinho e a AMAP, e os desdobramentos são: a co-criação da coleção Filhas do Sol, oficinas de bordado para mulheres de Passira e a exposição de fotografias bordadas da artista Laís Domingues, que durante o intercâmbio recebeu aulas de bordado tradicional com Dona Luzinete, aplicando o aprendizado nas fotografias tiradas durante a residência na cidade.

Para si: um processo de ser

A artista criou uma série de 20 obras, sendo 2 instalações, com fotografias do intercâmbio impressas com técnicas de revelação artesanal e bordadas manualmente. A exposição expulsa do plano das ideias um projeto vivo, com objetivos firmes e cheios de experiências inesperadas. Fala sobre a troca de saberes inata ao ser. As obras falam sobre a ancestralidade do bordado e da aspiração à liberdade, contida em cada ponto feito. Pássaros locais, franjas destramadas que lembram longas raízes, fios que unem figuras e elementos. Uma tentativa de mostrar, através de imagens reais, sentimentos abstratos.

Sobre a artista

Laís Domingues, nascida e criada na capital pernambucana, aproximou-se da realidade contextual e cotidiana de um machismo estrutural que se encontra arraigado na cultura vigente, sobretudo nas cidades do interior do país. A opressão de gênero que sobrecarrega mulheres de todos os cantos do Brasil, as submetem a rotinas exaustivas de trabalho que, em seu dia a dia, se concentram em afazeres domésticos, o cuidado com os filhos, maridos e idosos de seu núcleo familiar e sua atividade geradora de renda, totalizando uma jornada tripla de trabalho.

No município de Passira, o bordado e a costura são atividades exercidas, majoritariamente ou quase exclusivamente, por mulheres e ocupam um lugar central entre as atividades de geração de renda familiar e sustento da casa. Mulheres que bordam, criam, geram, sustentam, mas penam em alçar voo por não acreditarem ou não serem acreditadas.

Entre tantas histórias e sonhos que conheceu em sua vivência, a artista visual transporta os visitantes a uma atmosfera de construção, ninhos que acolhem e transformam o modo como uma mulher pode olhar para si mesma através das outras. A artista fala da liberdade e força feminina através de pássaros, ramagens e raízes.

Ao trazer referências como o mito do fio vermelho do destino, as obras falam da predestinação dos encontros e os associam à união feminina como revolução pessoal, transformando perspectivas e fortalecendo ideais. A exposição revela o processo de construção e amadurecimento da artista enquanto mulher, fotógrafa e bordadeira. As linhas e o tecido deixam de ser um passatempo e tornam-se um ofício, uma forma de sustentar-se em meio ao desequilíbrio dos dias.

O processo de impressão imagética é todo artesanal. Reagentes químicos se unem e universos curiosos se revelam baixo a luz solar que imprime imagens com texturas e colorações pouco controláveis. Todo o processo torna-se inusitado. A vivência, a impressão artesanal, o bordado e a própria exposição. O azul da cianotipia remete ao plano das ideias, a imaginação. O marrom Van Dyke, à terra, à concretização do que se imagina, pois o processo de criação está justo no fazer, no trazer ao mundo. Um conjunto de fatos cotidianos que levam a lugares e sentimentos indomáveis, por vezes únicos, assim como a vida.